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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Prática cíclica


De tão feliz
Entristeceu-se
De tão triste
Distanciou-se.
De tão distante
Aproximou-se.
De tanto aproximar
Apaixonou-se.
De tanta paixão
Chorou-se.
De tanto chorar
Cantou-se.
De tanta canção
Amou-se.
De tanto amar
Mortificou-se.
De tanta morte
Refez-se.
De tanto refazer
Conheceu-se.
De tanto conhecer
Viveu-se. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Vão


Eu vejo verde
Você vê violeta
Valter vê o vinho
Vanice vê vassoura
Vilma vê o vulgar
Vania vê vergonha
Vilmar vê vontade.
Valdete viaja
Vander viola
Vagner encoraja
Vanessa vê vampiros
E vagamente o vulto passa
Vasto em agonia
Voluptuoso em vida
Envaidecendo-se sozinho
Destrava a porta do tempo
Voa em meio às aves.
Pois volta o mundo vacilante
A girar valente, vaidoso
O verde valida-se em verde
O vinho não varia vanglorioso
Vasculham-no os sentidos
Mas nada se vê,
A felicidade encontra-se em vacuidade.

Dez minutos


A tua pele tem um cheiro comum
Um pouco do trabalho e um pouco da janta.
Os seus olhos são espertos
Como o vento que se esquiva
E que passa entre os meus cabelos.
O seu sorriso é forte
E quase me engole de felicidade.
As suas mãos me cobrem as coxas
E apertam-me para quase arrancar a pele.
Os seus pés caminham ao meu lado
Assegurando-me na noite fria.
As suas orelhas fervilham.
Os seus ouvidos atentam
Às batidas do meu coração.
E a cada brisa
Essa noite torna-se única
E cheia de imensidão.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Aquarela da vida


Nós somos a energia que impulsiona a vida. É dentro de nós que existem os mundos nos quais vivemos, pois cada ser é dono de um, e seu próprio construtor. Formulamos pontes entre a razão e a emoção. Algumas mais longas outras mais estreitas, às vezes mais tortuosas, mas sempre é o nosso caminho, traçado pelas nossas escolhas emocionais ou racionais. E a gente vive numa interação de mundos, fusão de valores. Numa mistura de cores sem fim, descobrindo nuances, tonalidades. E assim faz-se a diferença a aquarela da vida.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sou só de mim


Tu me quiseste por inteira
Pra dar cabo à solidão.
É uma pena que eu não seja
Feita pra ser posse;
Sou só de mim.
Os meus caminhos são estreitos
Só cabem os meus sonhos e eu
Minhas noites eternas
Carregam sabores de ternura
Excitação, candura.
E em meu mundo utópico
A fantasia imaginada
Realiza-se numa tarde sonhada.
Se me confundo com meu eu
Imagine com o alheio!
Restrinjo-me a ser ilusória
Teimo em só suportar uma personagem
Nessa minha breve história!

O tempo é de noites uivantes,
Dias suados
E tramas bem laçadas.
O tempo é de gritos reprimidos
Vozes roucas, caladas, emudecidas.
O tempo é de alegrias forjadas
Por parabólicas sistemáticas.
E suprimentos desnecessários.
O tempo é de lâminas
Que desenraizam ideais
Desmontando focos.
O tempo, para quem sabe fingir,
Agora é de sorriso traiçoeiro de ignorância
Pois onde habita a delícia dos tolos
É traçado o inferno dos sábios!