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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Às vezes parece que apenas sentir não basta. É preciso ressentir. Quem disse isso? As palavras em mim. Elas dizem: Escreva! Isso te faz lembrar. Combine-me, misture-me, sinta-me como sente tuas dores e teus amores. Será que eu confundo palavras e sentimentos? Será que são os sentidos que conversam comigo? Como saber se, com o que sinto, crio mensagens, orações, sentenças? Como saber se, do que sinto, sinto ainda mais escrevendo. E elas (eles?) dizem "escreva!". Sim, sou refém...refém da liberdade imensurável que as palavras me conferem.

sábado, 10 de agosto de 2013

Olho, dentro, tolhidos às lembranças, teus olhos. Alheios como se deles fossem o mundo, como se a nada pertencessem. Apáticos, como se nada desejassem.
Assim, a minha ânsia por buscá-los, por tê-los úmidos pelos meus amores, por tê-los e só, encontra, na verdade, uma vida inteira de entraves, de rispidez. Então olho fora, mundo afora, e teus olhos são os mesmos frios olhos. Ásperos e convictos.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Prática cíclica


De tão feliz
Entristeceu-se
De tão triste
Distanciou-se.
De tão distante
Aproximou-se.
De tanto aproximar
Apaixonou-se.
De tanta paixão
Chorou-se.
De tanto chorar
Cantou-se.
De tanta canção
Amou-se.
De tanto amar
Mortificou-se.
De tanta morte
Refez-se.
De tanto refazer
Conheceu-se.
De tanto conhecer
Viveu-se. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Vão


Eu vejo verde
Você vê violeta
Valter vê o vinho
Vanice vê vassoura
Vilma vê o vulgar
Vania vê vergonha
Vilmar vê vontade.
Valdete viaja
Vander viola
Vagner encoraja
Vanessa vê vampiros
E vagamente o vulto passa
Vasto em agonia
Voluptuoso em vida
Envaidecendo-se sozinho
Destrava a porta do tempo
Voa em meio às aves.
Pois volta o mundo vacilante
A girar valente, vaidoso
O verde valida-se em verde
O vinho não varia vanglorioso
Vasculham-no os sentidos
Mas nada se vê,
A felicidade encontra-se em vacuidade.

Dez minutos


A tua pele tem um cheiro comum
Um pouco do trabalho e um pouco da janta.
Os seus olhos são espertos
Como o vento que se esquiva
E que passa entre os meus cabelos.
O seu sorriso é forte
E quase me engole de felicidade.
As suas mãos me cobrem as coxas
E apertam-me para quase arrancar a pele.
Os seus pés caminham ao meu lado
Assegurando-me na noite fria.
As suas orelhas fervilham.
Os seus ouvidos atentam
Às batidas do meu coração.
E a cada brisa
Essa noite torna-se única
E cheia de imensidão.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Aquarela da vida


Nós somos a energia que impulsiona a vida. É dentro de nós que existem os mundos nos quais vivemos, pois cada ser é dono de um, e seu próprio construtor. Formulamos pontes entre a razão e a emoção. Algumas mais longas outras mais estreitas, às vezes mais tortuosas, mas sempre é o nosso caminho, traçado pelas nossas escolhas emocionais ou racionais. E a gente vive numa interação de mundos, fusão de valores. Numa mistura de cores sem fim, descobrindo nuances, tonalidades. E assim faz-se a diferença a aquarela da vida.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sou só de mim


Tu me quiseste por inteira
Pra dar cabo à solidão.
É uma pena que eu não seja
Feita pra ser posse;
Sou só de mim.
Os meus caminhos são estreitos
Só cabem os meus sonhos e eu
Minhas noites eternas
Carregam sabores de ternura
Excitação, candura.
E em meu mundo utópico
A fantasia imaginada
Realiza-se numa tarde sonhada.
Se me confundo com meu eu
Imagine com o alheio!
Restrinjo-me a ser ilusória
Teimo em só suportar uma personagem
Nessa minha breve história!

O tempo é de noites uivantes,
Dias suados
E tramas bem laçadas.
O tempo é de gritos reprimidos
Vozes roucas, caladas, emudecidas.
O tempo é de alegrias forjadas
Por parabólicas sistemáticas.
E suprimentos desnecessários.
O tempo é de lâminas
Que desenraizam ideais
Desmontando focos.
O tempo, para quem sabe fingir,
Agora é de sorriso traiçoeiro de ignorância
Pois onde habita a delícia dos tolos
É traçado o inferno dos sábios!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Limpa


Não sinto os teus braços nem as unhas,
Elas já não me cravam as costas.
O teu colo não mais me consola.
Os teus pés fugiram
Pisando em minha alma.
As mãos tuas carregaram minhas lágrimas.
E a tua boca as bebia insaciavelmente.
Ecoaram lampejos da noite desestrelada
Enquanto eu tornava-me fria e vazia.
Engoli a seco o teu desprezo
Banhei-me com as agonias
E saciei-me da tua indiferença.
Hoje estou limpa.
Limpa de bons sentimentos.
Limpa de beleza.
E eu estou viva
Alegrando-me de sofrimentos.

Não salvo


Dos amores que amei
Nenhum eu salvo
Foram tesouros descobertos no deserto
Mas que não me tiraram a secura da alma.
Eu só precisava irrigar meus sentimentos
E fazer com que brotasse algo saudável
Flores doídas já não me servem
Mas não pude.
Minha alma permanece seca
Como as folhas esquecidas do outono
Como o rosto exposto ao sol.
E continua feia
Como as marcas que só o tempo traz.